Carga horária no tratamento de TEA deve ser estabelecida de acordo com as necessidades e particularidades de cada criança
Nos próximos dez anos, um milhão de crianças no mundo nascerão com autismo, segundo projeção do Centers for Disease Control and Prevention (CDC). A condição, também conhecida como Transtorno do Espectro Autista (TEA), é um distúrbio caracterizado pela alteração das funções do neurodesenvolvimento, o que pode afetar diversos aspectos da vida.
Especialistas apontam que o tratamento de TEA multidisciplinar é uma das melhores formas de minimizar os impactos e oferecer mais qualidade de vida às pessoas autistas. Durante anos, a quantidade de horas dedicadas à terapia foi vista como um dos principais indicadores de desempenho no desenvolvimento individual. No entanto, pesquisas têm destacado que o foco excessivo no volume de intervenções pode desviar a atenção de um fator ainda mais importante: a qualidade do tratamento oferecido.
O tratamento de TEA pode ser feito em qualquer clínica para autismo em São Gonçalo e outras regiões do país. As terapias contam com profissionais de diferentes áreas para tratar manifestações comportamentais, déficits na comunicação, dificuldade na interação social e padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados.
DIagnóstico do autismo
Segundo o Ministério da Saúde, os sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos já nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 ou 3 anos. A identificação de atrasos no desenvolvimento de forma precoce é considerada essencial para garantir o tratamento adequado.
O órgão informa que há diferentes níveis de autismo e, por conta disso, cada criança pode apresentar questões específicas, o que exige um tratamento de TEA individualizado. Há aquelas que podem apresentar barreiras na linguagem e na interação, enquanto outras enfrentam mais dificuldades na alimentação e no controle comportamental, por exemplo.
Carga horária ideal de tratamento de TEA
O tempo reservado para tratar as questões associadas ao autismo é alvo de debates e pesquisas. Em 1987, o pesquisador e psicólogo Ole Ivar Lovaas iniciou um estudo que definiu práticas utilizadas até hoje no tratamento da condição. Em sua pesquisa, ele focou em crianças que exigiam altos níveis de suporte, utilizando um modelo de 40 horas semanais de terapia com Ensino por Tentativas Discretas (DTT).
Com o tempo, especialistas perceberam que a abordagem de utilizar sempre 40 horas semanais não deve ser universal, sendo necessário individualizar para atender às necessidades de cada indivíduo.
A diretora Clínico Denver e Específicas da clínica de autismo em Niterói Espaço Cel, Aline Alves, reforça que o tratamento para o autismo deve ser totalmente personalizado, de acordo com as particularidades da criança e da família, já que precisa ser voltado para minimizar dificuldades e desenvolver habilidades para um futuro com mais qualidade de vida, independência e autonomia. A especialista ressalta que, por isso, é sempre necessário estar em avaliação e reavaliação com a equipe multidisciplinar.
A criadora do Método Jasper, Connie Kasari, defende no artigo “De quanta terapia comportamental uma criança autista precisa?” que a carga horária não é o aspecto mais importante do acompanhamento, pois é essencial priorizar terapias eficazes que possam atender às necessidades de cada criança.
O pensamento também é defendido por Aline, que reforça que não é a quantidade de tempo que define o sucesso do tratamento de TEA, mas, sim, o quanto ele é bem utilizado, respeitando as recomendações dos especialistas e focando na qualidade, alta intensidade e constância.
Tratamento continua em casa
Além do tempo determinado pela equipe multidisciplinar que acompanha a criança, a orientação é que o tratamento continue fora dos consultórios. Uma abordagem integrada, que inclui pais, professores e terapeutas trabalhando de forma coordenada, é capaz de potencializa os resultados.
Um estudo conduzido por Lindsey Sneed e publicado na GlobeNewswire mostra que crianças autistas que receberam o apoio dos pais obtiveram maiores ganhos em seu tratamento do que aquelas que receberam suporte apenas dos profissionais, ainda que com poucas horas semanais de intervenção.
Aline destaca que, no contexto do TEA, o núcleo familiar precisa compreender seu papel para o avanço no tratamento da criança, dando suporte e participando ativamente de todo o processo.
“Os profissionais devem sempre chamar as famílias para essa conscientização e orientações necessárias para que, durante as rotinas da criança em casa, também se façam momentos ricos de aprendizado. Todo dia é uma oportunidade de aprender, e devemos aproveitar todos os momentos para isso, incluindo todos os envolvidos”, pontua.