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Além da academia: Autocuidado masculino tem ampliado o repertório de cuidados

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Autocuidado masculino tem ampliado o repertório de cuidados

Autocuidado masculino tem ampliado o repertório de cuidados, conforme pesquisas

Durante muito tempo, o autocuidado masculino foi associado apenas à musculação, barba bem feita e rotina de higiene simplificada. Essa percepção, no entanto, tem sido superada por uma geração que está ampliando o seu repertório, investindo em práticas como depilação, skincare, técnicas de massagem relaxante e procedimentos estéticos.

De acordo com estudo da divisão Worldpanel da Kantar, os homens foram responsáveis por 39% do crescimento no uso de produtos de cuidados pessoais em 2024. O envelhecimento é apontado como um dos principais fatores que impulsionam esse autocuidado masculino. A preocupação com sinais como cabelos brancos, rugas e aparência cansada tem levado esse público a buscar soluções para sua pele e cabelos. 

A adesão a produtos de beleza desenvolvidos para o público masculino subiu de 70% em 2023 para 72% no ano passado. Esse movimento rompe com estigmas antigos. A vaidade masculina deixou de ser um tabu e passou a ser vista como uma extensão do cuidado pessoal. 

O estudo Cosmentology, realizado pelo Grupo Croma, mostrou que 72% dos homens brasileiros afirmam cuidar da própria beleza, número muito acima dos 34% registrados na edição anterior da pesquisa, em 2018.

Autocuidado masculino em tratamentos estéticos

A mudança também é visível na busca por tratamentos estéticos, antes vistos como exclusivamente femininos. A pesquisa da Kantar revela que 17% dos homens já recorrem a procedimentos faciais, e a depilação com cera no rosto é realizada por 7% desse público. 

A presença masculina em clínicas de depilação a laser também acompanha essa tendência. O médico e membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia (SBLMC), Ronaldo Szerman, explicou à imprensa que os homens têm recorrido com frequência ao procedimento, sobretudo para tratar problemas causados por lâminas, máquinas elétricas e ceras, como a foliculite.

Ele destaca que o preconceito com esse tipo de procedimento já foi superado. “A depilação também melhora a qualidade de vida de quem precisa fazer barba todos os dias”, acrescenta.

O estudo da Kantar revela, ainda, que 2% dos brasileiros entre 35 e 44 anos já fizeram uso de toxina botulínica (botox), muitas vezes, com o objetivo de preservar uma aparência descansada e profissional. Esse perfil de consumidor também tem maior frequência nas rotinas de skincare: quem aplica botox usa 2,5 vezes mais hidratantes e tônicos faciais do que a média.

Outro indicativo dessa abertura do autocuidado masculino está no comportamento de figuras públicas. O ator e apresentador João Vicente de Castro revelou, em entrevista a um podcast, que é adepto do Sculptra, um bioestimulador de colágeno.

Os procedimentos com colágeno já são adotados por celebridades como Malvino Salvador, Anitta e Sabrina Sato, mostrando que os cuidados estéticos são cada vez mais usados, independente do gênero.

Autocuidado masculino ainda é ‘calculado’

Um estudo de caso recente, publicado na revista Fit, analisou a presença masculina em uma clínica de estética de Manaus e revelou dados que ilustram o crescimento desse público no setor. Segundo a pesquisa, os homens representam 20% do total de atendimentos na unidade. 

Entre os procedimentos mais buscados por eles estão a limpeza de pele (35%), o uso de toxina botulínica (25%) e a depilação a laser (20%). Tratamentos mais específicos, como harmonização íntima masculina e endolaser, também apareceram no levantamento, embora com menor frequência (10% cada).

No entanto, esse movimento ainda acontece dentro de certos limites: o autocuidado masculino tende a ser pensado estrategicamente, de forma a preservar traços considerados viris. A análise indica que o interesse masculino por estética está diretamente ligado à valorização profissional, com a manutenção de uma imagem mais confiante e competitiva no mercado de trabalho.

Os pesquisadores definem esse comportamento como “cuidado calculado”, ou seja, uma maneira de adotar práticas estéticas sem desafiar normas de gênero hegemônicas. O uso de botox, por exemplo, é justificado como um meio de “manutenção” da vaidade. Já a depilação foi associada à higiene e a um corpo mais disciplinado.