Fadiga e confusão mental escondem falta de nutrientes – Profissionais da saúde se deparam com um enigma diagnóstico cada vez mais frequente nos consultórios: a sobreposição de sintomas entre deficiências de vitamina B12 e coenzima Q10. As condições podem manifestar sintomas parecidos – dificuldade de concentração e fadiga crônica, por exemplo, são comuns a ambos. No entanto, os quadros exigem abordagens terapêuticas completamente distintas.
A situação se torna ainda mais complicada diante do aumento de casos relacionados a dietas restritivas e ao envelhecimento populacional, fatores que elevam o risco de carências nutricionais, muitas vezes, negligenciadas nos exames de rotina.
Por isso, sintomas da falta de coenzima Q10 costumam passar despercebidos em avaliações médicas rotineiras. Fadiga persistente, dores musculares e lapsos de memória (sinais que costumam ser atribuídos ao estresse ou ao envelhecimento natural) podem, na verdade, indicar níveis baixos dessa substância considerada vital para o metabolismo energético celular.
Q10: quando a “usina energética” celular falha
Concentrada em órgãos de alta demanda metabólica como coração, rins e fígado, a coenzima Q10 atua na produção energética celular e na proteção antioxidante. O endocrinologista Bruno Babetto, em entrevista à imprensa, destaca que a substância ajuda na produção de energia, por isso, alivia o cansaço e melhora a disposição física e mental.
Com o avançar da idade, seus níveis naturalmente diminuem, especialmente após os 30 anos, resultando em sintomas como cansaço persistente e baixa energia. Dores de cabeça frequentes, diretamente relacionadas à redução da oxigenação cerebral, também podem ser sintomas. Outro sinal é o comprometimento cognitivo.
A coenzima, portanto, impacta na saúde neurológica, o que é explicado pela capacidade de reduzir o estresse oxidativo e refinar a função mitocondrial no cérebro, como explica Babetto.
O Manual MSD acrescenta que a Q10 pode beneficiar pessoas com problemas cardiovasculares, reconhecendo potenciais benefícios terapêuticos da suplementação.
Sinais que o corpo emite quando falta B12
A vitamina B12 é considerada fundamental para o funcionamento do sistema nervoso central e para a produção de células sanguíneas. Obtida via alimentação ou suplementação, ela atua diretamente na formação das células sanguíneas e na manutenção da bainha de mielina que envolve os nervos. Quando os níveis dessa vitamina caem, o corpo começa a apresentar sinais.
Um dos primeiros a surgir é a fadiga profunda, resultado da incapacidade do organismo em produzir hemácias suficientes para o transporte adequado de oxigênio. Muitos pacientes podem confundir esse cansaço com estresse ou má qualidade de sono, adiando o diagnóstico correto.
Com o tempo, a deficiência pode afetar o sistema nervoso. A deterioração da mielina leva a sensações de formigamento nas extremidades, principalmente nas mãos e pés. Isso acontece porque os impulsos nervosos não conseguem trafegar com a mesma velocidade pelo corpo. Tropeços frequentes e dificuldade para se equilibrar também podem ser sinais de alerta, já que a propriocepção (nossa capacidade de perceber espacialmente o próprio corpo sem usar a visão) fica comprometida quando falta B12.
Na esfera cognitiva, a falta prolongada dessa vitamina gera confusão mental e esquecimentos. Não bastassem esses sintomas, a interrupção parcial da função neural causada pela deficiência de B12 pode se manifestar clinicamente como quadros depressivos. Pacientes que não identificam uma causa óbvia para mudanças de humor podem estar sofrendo com a falta dessa vitamina essencial.
O onco-hematologista Breno Moreno de Gusmão alerta para complicações mais graves. “Não apenas anemia, mas pancitopenia, com anemia, neutropenia, plaquetopenia, pode causar cansaço extremo, alterações sensitivas, ou seja, neuropatia sensitiva nos pacientes”, afirma o especialista ao Instituto Vencer o Câncer.
Fontes alimentares e reposição adequada
Para quem busca repor essas substâncias através da alimentação, é importante conhecer as fontes naturais de cada uma. Os alimentos ricos em vitamina B12 incluem produtos de origem animal, como leite e ovos, assim como suplementos.
Para a Q10, o espectro de fontes alimentares é mais amplo. A substância está presente majoritariamente nas carnes bovinas, no frango e em peixes vermelhos (atum e salmão, por exemplo). Vegetais como espinafre e couve também são ricos nessa substância, assim como as oleaginosas (castanha-do-pará, nozes, amendoim, entre outras).
Em casos confirmados de deficiência, a suplementação é uma opção válida – mas, como todo tratamento, exige orientação médica profissional.
A confirmação laboratorial é a única forma de diferenciar com precisão essas condições. Enquanto a dosagem de B12 sérica representa protocolo bem estabelecido na prática clínica, a quantificação de Q10 envolve desafios adicionais, já que a determinação plasmática dessa coenzima pode ser influenciada pela dieta do paciente. Por isso, a interpretação adequada dos exames por profissionais capacitados é essencial. Precauções adicionais aplicam-se a grupos específicos; quem já toma varfarina, por exemplo, deve consultar o médico antes de tomar coenzima Q10.